segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Daquela solidão

"Tinha, dentro dela, um milhão de sonhos. Todos eles se construíam no calabouço da esperança que a sustentava. Sorria com o afeto da família e se encantava com o abraço das crianças. Um carinho imenso pela natureza. Brincava com os raios de sol e saboreava pingos de chuva que lhe acariciavam a pele. Era rica de amigos. Tinha em si tantos sentimentos quantas são as estrelas do universo. Entretanto, havia algo que não se explicava em toda essa perfeição. Ela não era ingrata, ela apenas não estava completa. De tudo que sonhava e conquistava, não via espaço para a imensa solidão que sempre a acompanhou. Era hora de despedir-se. Não sabia como se livrar de algo tão triste que escurecia sua alma e marejava seus olhos, mesmo nos melhores momentos. Todo aquele amor não estaria sendo suficiente? Aquele carinho era em vão? Ela continuaria seu caminho, carregando mais uma frustração, que enegrecia o que era tão belo. Ela seguiria feliz, mas ainda em busca de algo que a completasse. Ela não queria alguém ao seu lado. Ela queria apenas sentir-se importante para alguém que não gostasse dela por obrigação." 

domingo, 9 de agosto de 2015

"Falaram sobre o céu e as coisas bonitas do coração. Mais uma vez os planos em comum se projetavam adiante. Os pensamentos em sintonia. Mais uma vez ela tinha encontrado. Mais uma vez ela, sozinha, tinha encontrado alguém. Mal sabia ela que aquele abraço apertado de afeto era, na verdade, uma despedida.
Ah! A solidão machuca a alma. As vezes cicatriza, mas as vezes machuca de novo, e em cima do machucado velho, que dói mais.
Não sabia do amor. Ela nunca pode conhecer o amor, mesmo tendo sido uma apaixonada. Ela amava tudo, desde o por do sol, ao mais puro olhar de uma criança. Ela admirava a vida. Era feliz. Era quase completa.
Se perdia na imensidão do céu, na doçura de suas palavras e na dureza de seu coração. Não, ele não era duro. Ele se tornara assim, de tão frio que era o mundo. Era um coração mole, na verdade, que chorava fácil e estava doido para amar alguém mais.
Tudo parecia tão efêmero e aquele que era, hoje, perfeito, amanha parecia mais ser um tormento, um erro do destino. Talvez devia ter amado mais quem um dia já se dedicou a ela. Mas será que, de fato, houve alguém?"

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Assim termina 2014: TRAJETÓRIA

Podem parecer longos
os caminhos que eu trilhei.
Caminhei com tribos perdidas,
novos campos desbravei.

Posso, muito tempo, ter gasto
para chegar a lugar algum,
mas de muito vale o meu cansaço
já que não tenho uma história comum.

Nadei nas profundezas,
com animais ferozes, lutei;
fui escrava da natureza.
com sabedoria, batalhei.

Da inteligência, fui discípula,
quanta coisa conquistei!
Minha vida não tem virgula
mesmo assim, de nada sei.

Sou feliz com o que tenho,
todos os dias agradeço.
Se alguma vez eu errar,
Que haja fé para um novo começo.


Dos meus arquivos: POR CAUSA DE CEM DÓLARES

Foi por causa de cem dólares...
Sem amor,
sem paixão,
foi o prazer
que cativou minha atenção.
Me enganou,
me fez de tolo,
me comprou...
E com apenas cem dólares,
encontrei consolo.

É por isso minha filha,
que eu vou lhe explicar
o porque que como sua família
não se encontra em qualquer lugar.

Numa noite em Nova York
eu passei a avistar
uma casa iluminada
em que o amor poderia estar.
Mas, infelizmente,
eu deixei me enganar,
e aquela noite de prazeres
eu tive que pagar.

E depois de dois meses,
sua mãe, ao me ligar,
disse que estava grávida
e queria me encontrar.

Nesse encontro
ficamos a conversar,
e me entristeci
quando ela disse que iria abortar.
A convenci,
dizendo que eu poderia te criar,
E foi nessa conversa,
que passamos a nos amar.

Três meses de namoro,
cinco de gravidez,
nos casaríamos
no próximo mês.
No dia do casamento,
ninguém queria aceitar,
que com aquela noiva de vermelho,
com vestido até o joelho,
uma família eu ia formar.

Mesmo assim nos casamos,
contra todas as vontades...
Três meses depois,
te conheci na maternidade.
Te contei essa historia
e continuo com sinceridade...
Foi você quem deu início
à nossa felicidade!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Dos meus arquivos: FRAQUEZA

Queria tanto que não conseguiu.
Era fraca,
Era incapaz.

Lutou pouco,
Desistiu fácil
Dos sonhos difíceis.

Quis muito
Em pouco tempo.
O mundo a devorou.

Nunca fora nada.
Teve um único sucesso:
Alimentou os vermes.

Dos meus arquivos: DOS AMORES, O PRIMEIRO.

A arte de te reencontrar
Fez em mim, o adormecido sentimento despertar.
Poder-te olhar em olhos de brilho vivo,
Em sua boca aquele doce sorriso
De garoto levado a comigo brincar.

Triste dia em que se foi,
Jamais pude te esquecer,
Meu peito corroía e minha alma padecia em pensar jamais te ter.

Amor de infância!
O primeiro: santa ignorância...
Eterno e derradeiro.

Tão desorganizado quanto meus versos
Está meu peito, por inteiro.
Encontrar-te, uma surpresa,
Então distante, um desespero.

Ter-te de novo, uma esperança,
Em meus sonhos, bem lembradas.
Ah! Nosso amor de criança!
Foi-se o tempo das gargalhadas.

Exigências da vida nos separaram
E as mesmas nos unem, de repente.
Nosso corpos, então, se encontram...
Santo amor adolescente!

Tão bom encontrar-te novamente!
Que dessa vez, para sempre enquanto dure
O tanto quanto durou,
Nosso amor não mais se acabe,
Se possível assim for.
Caso contrário prefiro, na vida, perder-me,
A te perder outra vez...
Meu primeiro amor!

Dos meus arquivos: ONTEM, HOJE E EU

Eu sou da época do muro de Berlim,
Da China socialista,
Da paz armada,
Da esperança.

A época da cidade maravilhosa,
Aquela da bossa nova...
Das saias armadas, 
Das noites longas.

Quando o céu era azul,
O cigarro não fazia mal,
A virgindade era uma virtude,
Quando era belo, o carnaval.

Dos tempos do futebol,
Da praia e do sol,
Da Floresta Amazônica...
Época de culturas.

Eu sou da época da nostalgia,
Do fim dos tempos,
Da destruição.

Do crime organizado,
Da pedofilia,
Da corrupção.

Época de perda de valores,
De fome e miséria,
Da nossa prostituição.

Eu sou da época do belo,
Eu sou da época da desgraça...
Eu sou hoje e sou ontem,
Enquanto o tempo passa.

Dos meus arquivos: MEUS TEMORES

Como se exalasse um odor fétido
E apresentasse uma aparência asquerosa...
Meus cabelos ensebados,
Meus pés mofados.

O fedor da podridão
Saia em minhas palavras
E dos meus olhos...
Eu chorava pus.

Meu suor cheirava a sangue,
Meu abdômen dominado por vermes,
A boca tinha gosto de fezes...
Fezes que escorriam pelas minhas pernas.

Baratas e moscas...
Minha pele necrosada
Mostrava a carne podre,
Evidenciava a sujeira do meu corpo.

Meus neurônios mergulhados em vômito
Ruminavam meus pensamentos cancerosos...
Eu, me decompunha enquanto viva,
Desintegrava minha alma.

Dos meus arquivos: ERRO FÍSICO

As pessoas...
Em módulo são iguais,
Numericamente diferentes.

Sou uma delas
E assim me constituo,
Na dificuldade da compreensão.

E agora,
A minha quantidade de movimento é mínima,
Pois não tenho mais ações e padeço.
Cem vezes eu mesma,
Isso me destrói.

Conclusão:
Não suporto mais vetores para a direita,
Pois estou sem direção e sentido.

Não suporto a ação de forças sobre meus pensamentos,
Muito menos eu mesma,
Um erro físico.

Dos meus arquivos: MINHA PÁTRIA

Hoje, pela manhã, não vi a bandeira da minha pátria,
Mas vi os meninos nus,
Os meninos com frio,
Com fome.

Hoje, pela manhã, a Mãe Pátria chorava
Enquanto os meninos brincavam
Com pedaços de pau e plástico
Na ausência de um brinquedo digno.

E a lágrima que ela derramava
Era de vergonha dos seus poderosos,
De piedade do seu povo,
Que tanto trabalhava.

O Brasil parou neste dia
Ao ver suas crianças sofrendo
E eu abaixei a cabeça, sem saber o que fazer
E chorei junto a minha bela e triste Pátria,
Que se nada mudasse, viria a falecer.